7 escritoras negras brasileiras

O dia 25/07 está recheado de efemérides importantes. Nacionalmente, é celebrado o Dia Nacional do Escritor, data criada na década de 1960 na ocasião do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado por ninguém menos que Jorge Amado e João Peregrino Júnior, à época presidentes da União Brasileira de Escritores.

Internacionalmente, celebra-se o Dia da mulher negra, latino-americana e caribenha, instituído pela ONU em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas em Santo Domingo, República Dominicana. No Brasil, a data homenageia também Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza”, que viveu no século XVIII e presidiu o Quilombo do Quariterê no Vale do Guaporé, Mato Grosso.

A coincidência das duas datas deu origem ao movimento Julho das Pretas pelo Odara – Instituto da Mulher Negra em 2013, que desde então aproveita o mês de julho para propor temas e ações necessárias para a pauta das mulheres negras no Brasil.

Em homenagem a todas essas datas, confira abaixo uma lista de 7 autoras negras brasileiras para ler, conhecer e celebrar.

Conceição Evaristo

Foto: editora Pallas

Conceição Evaristo é uma das maiores vozes vivas da literatura nacional. Nascida em Belo Horizonte em 1946, publicou pela primeira vez em 1990, nos Cadernos Negros. Mestre em Literatura Brasileira (PUC-Rio) e Doutora em Literatura Comparada (UFF), sempre equilibrou maternidade, estudo e produção literária. Foi homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti 2019. Suas obras incluem Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos d’água (2014) e o mais recente Canção para ninar menino grande (2022).

A autora cunhou o termo “escrevivência”, junção de “escrever” e “vivência” para descrever uma escrita a partir de vivências particulares do autor, em especial, aquelas vividas por mulheres negras. Em julho de 2023, foi inaugurada a Casa Escrevivência no Largo da Prainha, Rio de Janeiro. O espaço, composto de uma biblioteca e trabalhos da autora, pretende atrair “estudantes de escolas públicas, professores, pesquisadores, artistas e pessoas interessadas em ações culturais voltadas para o coletivo” (Veja Rio, 08/05/2023).

Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus autografando um de seus livros ao lado de Pedro Block
Foto: Arquivo Público de Sacramento (MG)

Nascida em 1914 em Sacramento (MG), Carolina Maria de Jesus tornou-se escritora reconhecida nacionalmente na década de 1960, com a publicação de Quarto de despejo: diário de uma favelada, em que narrou seu cotidiano na favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Trabalhou como empregada doméstica e catadora de papéis, mas sempre viu na escrita e nos livros uma saída para a sua condição social difícil. Com o sucesso do primeiro livro, Carolina Maria de Jesus conseguiu se mudar da favela e foi homenageada pela Academia Paulista de Letras e pela Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo. Também gravou um disco com composições próprias. Seus livros seguintes não foram tão aclamados e a autora passou décadas em esquecimento, até ter sua figura e sua obra resgatada nos últimos anos como símbolo de resistência da mulher negra.

A maior homenagem recente à autora talvez seja o Prêmio Carolina Maria de Jesus, concurso de livros inéditos de autoria feminina organizado e oferecido pelo Ministério da Cultura de Margareth Menezes em 2023 que teve mais de 2 mil inscrições em sua primeira edição.

Lubi Prates

Retrato frontal de Lubi Prates, mulher negra de pele clara com cabelo crespo curto, usando batom vermelho e blusa vermelha.
Foto: Douglas Santiago

Nascida em 1986, em São Paulo, Lubi Prates é autora dos livros de poesia Coração na boca (Patuá, 2016), Triz (Patuá, 2016) e Um corpo negro (Nosotros, 2018), este último contemplado com o PROAC de criação e publicação de poesia em 2017. Lubi dedica-se a ações que combatem a invisibilidade de negros e mulheres como editora, curadora, educadora e como tradutora, tendo sido responsável por traduzir obras de Audre Lorde, Maya Angelou e Jimena Arnolfi. Um corpo negro foi tema do clube de leitura Casa de Poetas em junho de 2023. No Instagram eu fiz uma leitura de um dos poemas do livro que me tocou (foram muitos).

Jarid Arraes

Foto: Divulgação

Jarid Arraes nasceu no Ceará em 1991. Seu primeiro contato com a poesia foi através dos cordéis, gênero no qual publicou mais de 70 títulos. Hoje vive em São Paulo e coordena o clube de escrita para mulheres que se reúne uma vez por mês na Biblioteca Mário de Andrade. É autora de Um buraco com meu nome (2021), Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (2020), Redemoinho em dia quente (2019) e Lendas de Dandara (2016). Um buraco com meu nome foi tema do clube de leitura Casa de Poetas em março de 2023. Gravei um vídeo no Instagram lendo um dos poemas do livro.

Djamila Ribeiro

Foto: site da autora

Nascida em Santos em 1980, Djamila Ribeiro é filósofa, ativista social, professora e escritora. Escreve ensaios sobre o racismo estrutural e feminismo negro e mantém uma coluna na Folha de São Paulo. Seu livro mais conhecido, Pequeno manual antirracista, foi um dos mais vendidos em 2020 e ganhou o Prêmio Jabuti do mesmo ano na categoria Humanidades. Coordena a coleção de livros “Feminismos Plurais” da Editora Letramento, iniciada em 2017 com seu livro Lugar de fala. Também é autora de Quem tem medo do feminismo negro? (2018).

Ana Maria Gonçalves

Foto: Léo Pinheiro/Divulgação

Autora do célebre romance Um defeito de cor, que ganhou exposição no Museu de Arte do Rio e em 2024 será enredo da escola de samba Portela, Ana Maria Gonçalves nasceu em Imbiá (MG) em 1970. Publicitária, sempre gostou de escrever, mas só publicou o primeiro livro, de forma independente, em 2002, Ao lado e à margem do que sentes por mim. Em 2006, lançou Um defeito de cor, romance histórico inspirado na vida de Luisa Mahin, heroína da Revolta dos Malês. Entre pesquisa, escrita e reescrita, o processo de feitura da obra totalizou 5 anos.

Eliana Alves Cruz

Foto: Companhia das Letras

A carioca Eliana Alves Cruz é jornalista e atua como chefe do Departamento de Imprensa da Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos, sendo também vice-presidente do Comitê de Mídia da Federação Internacional de Natação – FINA. Como escritora, publicou, entre outros, os romances Água de barrela (2018), uma pesquisa sobre a história de sua família desde os tempos da escravidão; Solitária (2022), sobre mulheres negras e o trabalho doméstico. Tem também livros infantis e de contos, dos quais destaca-se A vestida, vencedor do Prêmio Jabuti de 2022 na categoria contos.

Uma opinião sobre “7 escritoras negras brasileiras

  1. Você fez uma seleção de talentos de tirar o fôlego. A escrita de cada uma dessas autoras nos toca de diferentes formas. Lubi Prates conheci recentemente, uma potência poética. Os romances históricos da Eli Alves Cruz são de devorar. Conceição Evaristo nos empodera. Estive na exposição no MAR e comprei Um Defeito de Cor, mas ainda não li, sai impactada da exposição. Carolina nos faz sonhar com um Brasil possível. Jarid é outra lindeza. Djamila é minha mestra, foi a partir do livro Lugar de Fala que comecei a aprender sobre o feminismo negro. Obrigada por essa carta ❤️

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