Tão difícil Beber o outro Olhar e saber ver Que o copo cheio de cachaça É uma alma cheia de vazio Que nenhum líquido preencherá A solidão dos que são só Água calada Que escorre E tudo leva, nada lava Cactos de expectativas Que nenhum líquido preencherá A solidão dos que são Só — Roupa de Ganho
Água de beber e de lavar. Água que nos banha o corpo e a alma, água que vertemos em copos e em lágrimas, água que escorre morro abaixo e pelas frestas, água que afoga e que afaga. Água que limpa, purifica; que preenche e faz falta. Água que chove e água que move. Toda uma poesia da água está presente nos poemas de Roupa de Ganho, livro de estreia de Clara Bezerra lançado em agosto pela editora Paraquedas.
Nascida em Acari e criada em Cruzeta, interior do Rio Grande do Norte, a 215km de Natal, Clara cresceu rodeada de literatura por influência da mãe professora de Língua Portuguesa. O gosto pela leitura a acompanhou por toda a vida, dos clássicos de Machado de Assis, Aluísio Azevedo e José de Alencar à poesia de Manuel Bandeira, Hilda Hilst, Ana Cristina César, Manoel de Barros e tantos outros que escoaram para a sua poética até desaguar neste livro de poemas, compostos ao longo de 15 anos.
“Esses escritos falam do caminho de me tornar adulta e mulher, das coisas que perdi, dos lugares onde passei, dos medos, mas principalmente da minha coragem porque também é uma exposição muito íntima”, conta Clara.
Assim nasce “Roupa de Ganho”, das suas experiências de vida, das suas referências literárias, das suas memórias de infância. O título é uma referência às lavadeiras que ganhavam a vida lavando a roupa dos outros, ofício que fascinou Clara desde cedo. Hoje, a autora, formada em Letras, Publicidade e com um mestrado em Estudos de Mídia, se considera uma “lavadeira de palavras”.
E assim, Clara Bezerra vai lavando, esfregando e ensaboando suas palavras, que ganham novo significado quarando ao sol: poemas singulares, potentes, fluidos, em que a água é protagonista, ou melhor, o canal por onde desembocam as vivências e histórias de uma mulher que transborda força e delicadeza.
óvulo De que sou feita Eu? De mares, paisagens Paranoias, prisões Navios negreiros Veleiros, velas, porões Escuro Terras áridas, úmidas Visões Descobrimentos Encantos Eu, esse pedaço de dor Dividida em tratados Tordesilhas Essa terra descoberta Essas veias externas, expostas Os caminhos Os erros todos do mundo Jorrando sangue, canhões Guerras Ressentimento de tudo Os gritos de libertação Tambores, canções Essa que sou eu, aqui Muitas que fui Antes de mim Muitas que fluem De onde vim
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